O terraço e a caverna

domingo, 21 de maio de 2017

Era uma vez uma menina chamada Quinha, que vivia com os pais, o irmão e o avô numa cobertura na Zona Sul do Rio de Janeiro. A casa de Quinha era grande, luxuosa e colorida. Os pais de Quinha a amavam e não conheciam qualquer dificuldade financeira. Mas, apesar de tudo, Quinha não era feliz. Com apenas 11 anos de idade, a menina sofria a Síndrome das Pessoas Inexistentes, moléstia semelhante ao autismo, que a fazia viver num mundo sem pessoas. Quinha não enxergava os seres humanos com quem convivia. Seu universo era feito de lugares vazios. Apenas a internet possibilitava alguma comunicação com os outros, que para ela não passavam de personagens numa tela.

Longe dali, havia Paco. Preso a uma cadeira de rodas, vivendo com a família numa estação abandonada do metrô (foram expulsos da comunidade onde moravam pelo chefe local do tráfico), Paco vê os dias passarem diante do computador que o pai roubou. Nas redes sociais, seu perfil é cheio de revolta, amargura e insatisfação. Até aquele dia em que, na rede, uma menina tímida, de nome Quinha, atraiu a sua curiosidade.


O TERRAÇO E A CAVERNA é uma fantasia urbana em que a ação, mais do que fora, ocorre dentro da cabeça da protagonista. No mundo particular por onde transita a pequena Quinha, um gato pode não apenas falar e voar, mas nos levar a lugares repletos de estranheza. Construídos com o mesmo material instável, provocante e ameaçador que encontramos nos sonhos. A imaginação, principalmente a de uma criança, é imprevisível e pode tudo.

Mas o romance é também a história de Paco. Da realidade sólida e de gosto amargo que a fantasia de Quinha procura evitar. Na caverna em que se instalou com a família, Paco externa seus pensamentos, quase sempre hostis, contra um inimigo que ele acha que está em todos os lugares e em todas as pessoas. No entanto, ainda há uma criança dentro das mensagens lançadas como golpes, como armas. Uma criança que a agressividade do mundo não destruiu.


Um encontro entre essas duas crianças, de mundos tão diferentes, seria improvável. Mas isto não é empecilho para o destino.




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